Visão Mundial promove Encontro Latino-Americano Jovem



A violência no Brasil tem atingido milhares de jovens diariamente.

Mais de 50% das mortes de jovens é causada por homicídios, especialmente contra jovens negros, pobres e moradores de periferias.

O balanço do IPEA revela que aos 21 anos, as chances de jovens pretos e pardos - que representam a maior parte da população pobre no Brasil - morrerem por homicídios são 147% maiores que jovens de outros grupos étnicos.


Com objetivo de promover a troca de experiências de movimentos de adolescentes e jovens do Brasil e da América Latina no combate às violências contra as juventudes, a Visão Mundial, por meio do Monitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP), promove o Encontro Latino-Americano até esta sexta-feira (31) com diversa programação sobre o tema. O evento é aberto ao público e acontece no Hotel Uirapuru (Avenida Alberto Craveiro, 2222, em Fortaleza).

Atualmente os jovens representam mais de 30% da população brasileira. Esse número não significa apenas um peso quantitativo, porém, a juventude representa um agente potencial de mudanças sociopolíticas. Por outro lado, a juventude encara o desafio de viver as desigualdades sociais. 

O coordenador de juventude da Visão Mundial, Edgleison Rodrigues fala sobre a importância do evento na articulação de estratégias. "Precisamos investir nas politicas publicas, pautando o investimento na segurança pública a partir da perspectiva da comunidade, na educação, na cultura. Isso é feito com a articulação de todas as redes de proteção. Essa ação tem que ser coletiva e atingir todas as pessoas que são impactadas com a violência", afirma.

O evento vai reunir os grupos do MJPOP que, atualmente, realizam trabalhos de articulação em nove do Brasil (Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia, Amazonas, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) mais o Distrito Federal e engloba cerca de 600 adolescentes e jovens em 38 grupos na aplicação de metodologias MJPOP que têm prioridade estratégica o monitoramento da qualidade da educação pública, o fortalecimento da rede de proteção da criança e do adolescente e a redução da mortalidade das juventudes.

O encontro objetiva a formação de jovens multiplicadores no tema da segurança pública e justiça, além de formar, coletivamente, um plano de ação para incidência no tema da segurança pública no Brasil e na América Latina. "Teremos a oportunidade de pautar, a nível nacional, os dados da mortalidade da juventude a fim de unir forças pra criar essas estratégias. Os jovens são a principal vitima da violência, eles sentem na pele a vontade de lutar para parar de perder seus familiares e amigos", afirma Reginaldo Silva, coordenador do Projeto Eu Sinto Na Pele da Visão Mundial.

O Eu Sinto Na Pele foi lançado ano passado trabalhar com a estratégia de mobilização e sensibilização dos cidadãos e do poder público para alcançar uma incidência efetiva nas políticas públicas. "Queremos motivar os jovens e dar subsídios com conhecimento, formação e métodos para incentivar a participação popular", afirma Reginaldo. Até o momento, o projeto já alcançou mais de mil jovens em escolas publicas e em comunidades nos estados de Pernambuco, Amazonas, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Bahia e Brasília durante os meses de janeiro a julho deste ano por meio de oficinas, pesquisas e incidência politica.

A articuladora regional de juventude da Visão Mundial, Tatiane dos Anjos, fala sobre a necessidade da presença das mulheres na política como uma estratégia de diminuir a violência. "Enquanto mulher negra da periferia, eu luto para estar à frente dos espaços de poder e mostrar para juventude que ela tem direitos e que isso tem que ser garantido, pois aos índices de feminicídio só aumentam e o poder publico precisa garantir mais públicas pra nós, mulheres. Por isso, o reconhecimento da Visão Mundial no trabalho da juventude é tão importante", conta Tatiane.

A abertura do evento contou com a presença dos presidentes das comissões de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Fortaleza (vereadora Larissa Gaspar) e Assembleia Legislativa do Ceará (deputada Raquel Marques). 

Na abertura foi lançado o documentário "Nossos Mortos Têm Voz". O filme foi realizado com parceria entre a Quiprocó Filmes, o Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu, o Fórum Grita Baixada e a Misereor. O documentário mostra o depoimento de mães e familiares de vítimas da violência de Estado na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.

A programação começa às 8h30 e segue até às 17 horas com rodas de debate sobre os seguintes temas: Os desafios da Segurança Pública no Brasil, ministrado pelo professor Luiz Fábio da Silva Paiva, Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará; A Violência Contra as Juventudes na América Latina e no Brasil, com participação de Patrícia Horna, assessora de advocacia da Visão Mundial Latinoamericana, Marcelo Leite, Educador Social e Secretário da Federação Universal de Movimentos Estudantis Cristãos da América Latina e Patrício Cuervas, assessor sênio de Políticas, Participação Infantil e Direitos da Visão Mundial Internacional. À tarde haverá grupos de trabalho que farão apresentações sobre racismo, violência estrutural, desigualdades, feminicídio e violência contra a mulher, encarceramento em massas e índices de homicídios na adolescência.

Nesta quinta-feira (30) houve apresentações culturais e rodas de debate com o tema: "A participação Social na Prevenção e Redução de Homicídios, ministrado por Edna Jatobá (GAJOP), Alessandra Féliz (Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará), Ivenio Hermes Junior (OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte). Na parte da tarde, haverá mais grupos de trabalho.

Nesta sexta (31) haverá duas mesas com o tema: "Pensando novos modelos de Segurança Pública a partir de Perspectivas Comunitárias, com Caio Feitosa, das 9h15 as 10h15 e Experiências Institucionais e Comunitárias de Enfrentamento a Violência, com mediação da assessora de proteção da Visão Mundial, Karina Lira e participação de Renato Roseno (Assembléia Legislativa), Melissa Lima (Núcleo Atitude Jovem), Bruno Langeani (Instituto Sou da Paz).

Sobre o MJPOP - O Monitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP) é um movimento da Visão Mundial composto por adolescentes e jovens que são instigados a olhar para suas realidades, levantar os problemas e junto com os atores comunitários pensam em soluções. Hoje o movimento acompanha as políticas de educação, proteção infantil e pela redução dos índices de vulnerabilidade da juventude negra.

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